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  • Eros, o saber e a política
    May 31 2024

    No texto “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905) Freud nos apresenta a pulsão epistemofílica. Ali, ele sugere que o primeiro problema com o qual a ânsia de saber se esbarra é a pergunta: “de onde vêm os bebês?”. Esse questionamento expressa um receio do infante de que um novo bebê origine uma perda de cuidados e de amor.

    Há uma força, uma pressão, que mobiliza os seres humanos a querer saber sobre si e sobre o mundo. De onde vem, afinal, esse desejo de saber que estimula, aquece, e que é capaz de gerar tantas ações?

    A ideia de ciência surge como resposta frente aos problemas e dificuldades que enfrentamos. Promete emancipação individual e coletiva, progressos e melhoria de vida. Contudo, com o advento da bomba atômica, dos mísseis de guerra e das câmaras de gás para extermínio de seres humanos, a narrativa de que a ciência viria apenas para o bem da humanidade é questionada. A ciência, afinal de contas, é uma produção humana e, como tal, pode ser usada para a destrutividade.

    A busca do conhecimento científico passou, gradualmente, a ser substituída por especulações conduzidas por algoritmos que apenas reafirmam crenças individuais. A opinião pública, tão importante para a cobrança de políticas públicas que gerem mudanças, paulatinamente se distanciou da ciência. Especialistas, por vezes, passaram a ser colocados para escanteio.

    A distopia 1984, de George Orwell, em que há um “Grande Irmão” que determina o que é verdade, tornou-se um a realidade.

    O que fazer para que o discurso o científico volte a se comunicar ativamente com a população e, consequentemente, com o poder público? Como retomar o diálogo entre ciência e política? Como fazer com que as pessoas se interessem mais sobre o mundo do conhecimento?

    Para conversar conosco sobre esse tema convidamos a matemática, filósofa e historiadora Tatiana Roque e o psicanalista Miguel Calmon.

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    57 mins
  • As cidades no tempo da dor das mudanças climáticas catastróficas
    May 14 2024

    Entre o final de abril e o começo de maio de 2024, chuvas ininterruptas transformaram-se em violentas águas barrentas. As águas invadiram moradias e, em muitos casos, atingiram a altura dos telhados das casas em várias regiões do Rio Grande do Sul. Em poucos dias cidades foram devastadas e o número de refugiados ambientais tornou-se assustador. O cenário é descrito como o de guerra: faltam água potável e energia elétrica, há escassez de mantimentos, os hospitais estão lotados e o número de mortos e desaparecidos é crescente.

    O desastre ambiental que vivenciamos evidenciou o despreparo estrutural das cidades diante de variações climáticas extremas.

    Apesar dos alertas constantes de cientistas na área ambiental, as autoridades governamentais e parlamentares, em sua maioria, negligenciaram as medidas necessárias para lidar com os eventos climáticos severos. Esses eventos, infelizmente, irão se repetir.

    A tragédia funda um tempo de dor. O trabalho de reconstrução que virá pela frente demandará tempo e envolvimento de muitos corpos e mentes. Será necessário que esse primeiro tempo, da dor extrema, possa, em um segundo tempo, encontrar simbolização e representação. Assim, as experiências traumáticas poderão ser contidas por um continente.

    Nesse tempo incerto e instável o que está ao alcance do trabalho psicanalítico? O que é possível diante de mudanças catastróficas?

    Para conversar conosco sobre esse tema emergencial convidamos o biólogo e professor Paulo Brack e a psicanalista Maria Luíza Gastal.

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    1 hr and 40 mins
  • A cidade como palco da dança da libido com a destrutividade
    Apr 17 2024

    Como viver juntos? Ou melhor, como continuar a viver juntos?

    Tal como no psiquismo humano, onde uma ferida lateja e nos retira do lugar de imaginarmos ter o domínio em nossa própria casa, uma cidade também é composta por uma miríade de lugares desconhecidos. Charles Baudelaire captou o espírito da cidade moderna ao falar sobre a errância, o caminhardespretensioso, similar a uma atenção flutuante do método psicanalítico, quando escutamos uma história ou andamos por uma cidade sem ansiar encontrar algo específico, até que um susto possa nos mostrar uma relevância e abrir um caminho novo.


    Todavia, são vários os desafios à soltura da errância. Na cidade é possível acompanhar usos e abusos: espaços públicos são privatizados, espaços comuns são apropriados, espaços criados para uma função acabam sendo utilizados para outras funções, a intimidade é exposta como mercadoria de consumo: segregações sociais violentas em deslocamentos urbanos, a febre dos porsches em colisão com pessoas em situação de rua, condomínio e hotéis de luxo ao lado de favelas. A cidade é cada vez mais um lugar de interditos.

    O que é possível fazer para propiciar a construção de laços sociais em uma cidade contemporânea?

    Para conversar conosco convidamos a urbanista Regina Meyer e a psicanalista Magda Khoury


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    1 hr and 31 mins
  • Sonhos na contemporaneidade: entre a neurociência e a psicanálise
    Mar 17 2024

    Na aurora do século XX, Freud publica “A interpretação dos sonhos”, livro que também representa a entrada da psicanálise na cultura moderna, um marcador da ruptura com o século XIX, constituindo um novo futuro sobre a compreensão da vida mental humana.


    O significado dos sonhos sempre intrigou a humanidade, ao passo que foi descredenciado ou combatido em determinadas épocas e culturas. Freud criticou a posição médica vigente de seus contemporâneos, evidenciando a rigidez científica que impossibilitava alcançar o significado psicológico de um sonho. E constatou, com assombro, “que a visão dos sonhos que mais se aproximava da verdade era a não médica, mas a popular.”

    Freud concluiu que o sonho é uma realização de desejo.

    Um sonho nos leva a um espaço tão íntimo que conduz à seara do inconfessável, algo muitas vezes contraditório diante da imagem que a pessoa tem de si.

    No entanto, culturas que preservam interpretações milenares podem ter uma visão diferente dos sonhos e sua relação com os desejos.

    Diante disso, nos questionamos: atualmente, como vivenciamos os sonhos? Quais as funções do sono e dos sonhos? Diante dos avisos de culturas ancestrais acerca da “Queda do céu” é urgente reaprendermos a sonhar? Os sonhos continuam a ser nossos oráculos, a nossa via régia?

    Para conversar conosco sobre os sonhos na contemporaneidade convidamos o neurocientista Sidarta Ribeiro e o psicanalista Pedro Coli.

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    1 hr and 23 mins
  • O impacto estético na arte e na psicanálise
    Dec 16 2023

    O que ocorre em uma experiência estética? Em 1908, Freud compara os devaneios e fantasias dos adultos com as brincadeiras infantis. A criança expressa seu mundo imaginário ao brincar de ser adulta, envolvendo-se em jogos, imitações e encenações que refletem as situações cotidianas dos mais velhos, como brincar de “papai e mamãe”.

     

    O contato com o estético, por meio das diversas linguagens artísticas, proporciona prazer e deleite, mas também instiga a inquietude diante da ausência de respostas claras sobre o que nos comove. Desde a antiguidade até os dias contemporâneos, das belas artes às artes abjetas, a experiência estética se desenrola em uma ampla gama de possibilidades, envolvendo fruição, prazer, repulsa e desprezo.

     

    Existe algo que ressurge no encontro estético? Ao considerar a dualidade entre Eros e Tânatos, como podemos compreender o prazer estético? Seria a arte o único meio de tocar, ainda que precariamente, o humano?

     

    Para conversar conosco sobre “O impacto estético na arte e na psicanálise” convidamos o arquiteto, designer, professor de História da Arte Pedro Boaventura e o psicanalista Luiz Meyer.


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    1 hr and 22 mins
  • A literatura libertina e a analidade na psicanálise
    Nov 18 2023


    Marquês de Sade é considerado uma das figuras desviantes na literatura. A construção de suas personagens seguiu na contramão de qualquer convenção social, longe de qualquer aprisionamento a regras morais. Na literatura libertina de Sade a analidade e o sadismo aparecem em narrativas de dominação, submetimento, crueldade, coprofilia.


    Freud, ao falar da sexualidade humana, explicita seu caráter complexo e composto, ressalta as excitações periféricas de partes do corpo, como genitais, boca, ânus, uretra. Desenvolve, em seus argumentos sobre a sexualidade, as formações reativas ou forças contrárias, como a vergonha, o nojo e a moral.


    Freud e os escritores fogem, portanto, das formas habituais de pensar o humano. Nesse sentido, pensar o erotismo é, amiúde, sair da convenção. É trazer o incômodo, a inquietude. 


    Freud relacionou a analidade ao sadismo e nomeou como fase sádico-anal aquela na qual esses aspectos estão em primeiro plano. Como a analidade aparece na teoria psicanalítica? Seria Freud um libertino?


    Para conversar conosco sobre essas e outras questões nesta temporada sobre “O Sexual na Polis” convidamos a professora e crítica literária Eliane Robert Moraes e a psicanalista Berta Hoffmann Azevedo.


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    1 hr and 18 mins
  • O phallus na história romana e a sexualidade na psicanálise
    Oct 30 2023

    Os primeiros estudos psicológicos e pedagógicos no século XIX legitimaram uma concepção da infância baseada em ideais de felicidade, fragilidade, inocência e espontaneidade.


    Freud inaugurou um novo olhar sobre a vida psíquica das crianças. Essa se faria acompanhar, desde o seu início, da dimensão sexual. Ele propõe uma nova ética, articulando o sexual ao infantil, insistindo na importância dos primeiros anos da infância para a etiologia sexual das neuroses.


    O termo sexualidade precisará ser diferenciado da noção de genitalidade. Afirmará também que o psiquismo é bissexual; apresentará conceitos como o complexo de Édipo, o complexo de castração, colocando o órgão pênis como referência na diferença entre os sexos e como objeto de “inveja” nas meninas.


    Como podemos pensar a teoria freudiana hoje? O falocrentrismo e seus efeitos estariam presentes ainda hoje na nossa cultura?


    Para continuar pensando sobre o sexual na Polis em nossa época, convidamos o historiador Alexandre Coser e a psicanalista Luciane Falcão.

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    1 hr and 16 mins
  • O leite, a comida e a sexualidade
    Aug 11 2023


    Estamos acostumados a pensar que o bebê humano, diferentemente dos filhotes de outras espécies, é completamente dependente do outro.

     

    Freud, já em 1885, no “Projeto para uma psicologia científica, entendia que quando as necessidades corporais exigem satisfação, o bebê com fome grita e esperneia. No entanto, esses movimentos não o saciam. É a ação de cuidado do outro que o assiste, e portanto, que permitirá que a experiência de satisfação aconteça, pondo fim às estimulações internas que provém das necessidades.

     

    O seio da mãe é oferecido não apenas com o intuito de nutrição, mas de apaziguamento das tensões, minimizando as sensações de desconforto que o ego incipiente do bebê não pode ainda sustentar. Neste sentido, para a psicanálise, a relação com o seio é ampla e complexa.

     

    Nos “Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), Freud assinala que a pessoa que se ocupa dos primeiros cuidados do bebê - "que geralmente é a mãe - dedica-lhe sentimentos que se originam de sua própria vida sexual: acaricia, beija e embala a criança, claramente a toma como substituto de um objeto sexual completo".

     

    É a partir dessa experiência com o corpo do outro, que a pulsão sexual é despertada no bebê, deixando marcas e criando possibilidades desejantes. Dessas marcas, principalmente a partir da retirada do seio e de alguma separação em relação à mãe, observaremos os mais diferentes destinos pulsionais que se expressam na vida humana.


    Seriam os filhotes de outras espécies realmente menos desamparados que os nossos? E ainda, como psicanalistas, que aspectos da nossa sexualidade estariam postos nesta relação política que travamos com as fêmeas de outras espécies?


    Para nos ajudar a pensar sobre o sexual na Polis convidamos a artista Cecília Cavalieri e a psicanalista Luciana Saddi.


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    1 hr and 18 mins