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  • Candidato inesperado surpreende na Bolívia e corre com vantagem num inédito segundo turno
    Aug 18 2025
    Pela primeira vez na história, as eleições na Bolívia terão um segundo turno. E, também de forma inédita em duas décadas, o partido de esquerda Movimento Ao Socialismo (MAS), anteriormente liderado por Evo Morales, ficou de fora da disputa presidencial e não terá representantes no Congresso – um marco no cenário político boliviano. Quem surpreendeu foi o azarão Rodrigo Paz Pereira, não detectado pelas pesquisas eleitorais e agora favorito para o segundo turno. Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires Se antes as pesquisas de intenção de voto apontavam para uma disputa em um inédito segundo turno entre a direita e a centro-direita, o resultado das urnas indica uma disputa entre a direita e o centro. Alguns analistas colocam esse embate até entre a direita e a centro-esquerda. “Estamos diante de um novo cenário político na Bolívia. Não apenas acabou a hegemonia do MAS, mas também vemos que os elementos clássicos de uma polarização têm agora menor peso. Isso faz com que este segundo turno, inédito na história do país, seja também inédito por não haver um choque entre duas visões ideológicas antagônicas, como aconteceu ao longo dos últimos 20 anos. O que parece estar em jogo é o que trouxe Paz Pereira até aqui: o desejo de boa parte dos eleitores por uma renovação na política”, aponta o analista político Gustavo Pedraza. “A origem desse resultado surpreendente está na vontade do povo boliviano de uma renovação”, sublinha. O grande e inesperado protagonista da jornada foi Rodrigo Paz Pereira, um candidato do centro político que já militou na centro-esquerda da social-democracia. Aliás, o pai de Rodrigo, o ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989–1993), fundou o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), inscrito na Internacional Socialista, e organizou a resistência ao regime militar do ex-general Hugo Banzer (1971–1978). Rodrigo Paz Pereira foi o mais votado, para surpresa geral da nação, inclusive dele próprio. As pesquisas indicavam menos de 10% das intenções de voto. Os especialistas indicam que o crescimento de Rodrigo Paz Pereira aconteceu graças às dificuldades que as pesquisas têm para medir o voto rural e indígena, e também aos indecisos que deixaram para decidir na última semana e escolheram uma renovação. “É uma grande surpresa. Por mais que se percebesse um crescimento da candidatura de Rodrigo Paz, ninguém podia imaginar esse nível em apenas dez dias. Há dois meses, ele tinha 4%. Na última medição, 8%. Até ele mesmo deve ter ficado surpreso”, acredita o analista político Luis Fernando Castedo, ex-porta-voz do Tribunal Eleitoral. Outra explicação é que os eleitores abandonaram a esquerda, mas não queriam uma opção rupturista. Paz Pereira é visto como um moderado que não busca vingança contra o passado, mas sim a união nacional. “Boa parte dos que votaram em Rodrigo Paz são eleitores órfãos que antes votavam no MAS. Optaram agora por um candidato diferente, com traços de ‘outsider’ da política. Uma renovação que possa ser uma ponte. Identificaram nele a vontade de conciliação, de pacificar o país. Então, os indecisos (15%) inclinaram essa balança”, avalia Gustavo Pedraza. Evo Morales é o grande perdedor O grande derrotado foi o partido Movimento ao Socialismo, antes liderado pelo ex-presidente Evo Morales. O partido ficou com 3,1% dos votos, pouco acima dos 3% necessários para manter o registro. O outro grande derrotado foi o próprio ex-presidente Evo Morales. Inelegível, Morales promoveu o voto nulo, que acabou em quarto lugar com 19,3% dos votos, quando historicamente ficava com 14 ou 15%. Ou seja, Morales hoje tem pouca representação na sociedade boliviana. “Quando Morales passou a promover o voto nulo, as pesquisas já indicavam que essa seria a opção de 10% do eleitorado. Foi mero oportunismo eleitoral”, recorda o economista e analista político Carlos Toranzo. O segundo turno está marcado para o dia 19 de outubro. Serão dois meses de alianças e estratégias numa corrida na qual agora o candidato Rodrigo Paz Pereira parte com vantagem. Reflexo no Congresso Com 95,4% das atas de votação contabilizadas, os números preliminares divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral dão ao Partido Democrata Cristão, de Rodrigo Paz Pereira, 32,1% dos votos válidos. A Aliança Livre, de Jorge “Tuto” Quiroga, ficou em segundo lugar, com 26,8%. O empresário da centro-direita, Samuel Doria Medina, antes apontado para disputar o segundo turno, ficou em terceiro lugar com quase 19,9%. Esse pódio teve reflexo no Congresso. Dos 130 deputados, Paz Pereira ficará com 25; Tuto Quiroga, com 20; e Doria Medina, com 12. Essas três forças, com uma visão liberal da economia, ficam muito próximas da maioria da Câmara dos Deputados. O Movimento ao Socialismo (MAS) não obteve nenhum deputado, quando antes tinha maioria absoluta. No Senado, dos 36 senadores, Paz ...
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  • Europa está 'desesperada' diante de negociações entre Trump e Putin sobre Ucrânia, diz analista
    Aug 14 2025

    Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, se reúnem na sexta-feira (15), no estado americano do Alasca, para discutir um possível acordo de paz na guerra da Ucrânia. Na iminência das negociações na cúpula bilateral, líderes europeus promoveram, na quarta-feira (13), um encontro virtual de última hora com a presença de Trump e também do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

    Artur Capuani, correspondente da RFI em Bruxelas.

    “Se encontrar com Trump no Alasca, por si só, já é uma vitória diplomática para Putin”, afirmou à RFI Jacob Kirkegaard, pesquisador do Centro de Estudos Europeus Bruegel. O presidente russo conseguiu escantear a Europa e Zelensky mais uma vez, neste que será o primeiro encontro presencial entre os líderes desde que o republicano voltou à Casa Branca.

    Na prática, o que está em pauta agora é a possibilidade de um cessar-fogo. Essa é a exigência de Zelensky e dos líderes europeus para que se inicie, de fato, uma negociação pelo fim da guerra. Mas o próprio Zelensky afirmou que Putin está blefando e que o presidente russo vai pedir, como contrapartida, o controle total da região ucraniana de Donetsk.

    Atualmente, a maior parte deste território, cerca de 70%, foi invadida e está ocupada ilegalmente pela Rússia. A discussão em torno da troca ou cessão de territórios reacendeu esta semana e é um dos pontos-chave da negociação.

    Segundo Kirkegaard, não há expectativa de grandes resultados na cúpula de amanhã. “Na prática, avançar com a proposta de Putin significaria ceder territórios ucranianos antes mesmo de um cessar-fogo, oferecendo à Rússia algo concreto em troca de uma promessa sem valor real", acredita.

    Para o pesquisador, "Moscou poderia aceitar, no máximo, suspender temporariamente bombardeios contra alvos civis, o que seria rapidamente revertido. As últimas semanas já foram muito positivas para a Rússia. E, independentemente do que acontecer no Alasca, quem tem mais razões para sorrir é Vladimir Putin”.

    Proposta de encontro entre Putin e Zelensky

    Donald Trump afirmou que, caso tudo ocorra bem na reunião bilateral em Anchorage, no Alasca, ele espera realizar rapidamente um segundo encontro, desta vez com a presença de Putin e Zelensky. Porém, mesmo com essa intenção, é muito improvável que isso venha a acontecer num futuro próximo.

    É preciso lembrar que o presidente russo considera o governo de Zelensky ilegítimo e não vê o ucraniano como um interlocutor em pé de igualdade. Putin só aceitaria se encontrar com Zelensky para assinar a rendição da Ucrânia, algo que simplesmente não vai acontecer.

    Conversa com líderes europeus

    O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que ficou claro, na conversa desta quarta-feira, que territórios pertencentes à Ucrânia só serão negociados pelo próprio presidente ucraniano. Os europeus ligaram o sinal de alerta porque, nesta semana, Trump chegou a afirmar que os dois lados envolvidos na guerra teriam de abrir mão de territórios para finalizar o conflito.

    O chanceler alemão, Friedrich Merz, também foi direto: disse que precisa ser mantido o princípio de que as fronteiras não podem ser alteradas pela força. Com Zelensky ao seu lado, Merz descreveu a conversa como “excepcionalmente construtiva e boa."

    A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, também celebraram o resultado do encontro e afirmaram que os europeus vão manter uma coordenação estreita sobre as conversas.

    Hoje, a posição europeia é fraca e secundária. Segundo Jacob Kirkegaard, a reunião desta quarta foi, acima de tudo, um sinal de que a Europa está desesperada por não participar das negociações no Alasca.

    “Esse movimento foi só a melhor maneira de os europeus reagirem a uma situação que é ruim para eles. Os líderes europeus querem garantir que o imprevisível presidente norte-americano entenda quais são os limites da União Europeia e de Kiev”, concluiu o analista.

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  • Descontentamento social na Argentina cresce, mas Milei mantém apoio popular
    Aug 13 2025
    O número de setores sociais afetados pelo ajuste fiscal do governo aumenta, mas o apoio ao presidente Javier Milei não diminui. Apesar de a maioria dos argentinos consumir menos e metade ter dificuldades para chegar ao fim do mês, os governistas devem vencer as próximas eleições legislativas de outubro, segundo analistas políticos. Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires Todas as quartas-feiras, aposentados ocupam a frente do Congresso em Buenos Aires para protestar contra as políticas de Milei. A cada semana, um novo setor se une à categoria, uma das mais atingidas pelo ajuste fiscal do presidente argentino. Há dez dias, Milei vetou um aumento nas aposentadorias aprovado pelo Congresso, além de uma atualização no valor das prestações médicas destinadas a pessoas com deficiência. O Congresso também deve votar em breve leis de financiamento para universidades e hospitais pediátricos, que afetarão médicos e o ensino universitário. O presidente afirma que não há recursos para ajudar esses setores vulneráveis e que a política de superávit fiscal é uma das bases de seu governo. No entanto, o superávit fiscal de Milei é considerado fictício por economistas. Isso porque, entre outros fatores, as obras públicas no país estão paralisadas há quase dois anos. Além disso, o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) lembrou que, ao se considerar os juros da dívida, o superávit fiscal primário de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) se transforma em um déficit fiscal de 1,2%. De todo modo, o que se torna cada vez mais evidente nas pesquisas de opinião pública são os setores sociais que relatam dificuldades para chegar ao fim do mês. Aperto econômico e perda de poder aquisitivo Desde dezembro de 2023, quando Javier Milei assumiu a presidência, a perda média do poder aquisitivo na Argentina foi de cerca de 12%. Trabalhadores do setor público e do setor informal sofreram perdas ainda maiores. Já os assalariados do setor privado têm conseguido reajustes salariais baseados na inflação. As perdas no poder de compra muitas vezes passam despercebidas, pois ocorrem por meio do aumento das tarifas de serviços públicos ou pela eliminação de benefícios. Os aposentados, por exemplo, agora precisam comprar os medicamentos que antes recebiam gratuitamente. Uma pesquisa nacional da consultoria M&F concluiu que 83,9% dos argentinos tiveram de mudar seus hábitos de consumo devido à perda de poder aquisitivo. Entre os cortes, destaca-se a redução nos gastos com produtos essenciais. Os consumidores abandonaram marcas tradicionais em favor de produtos de segunda linha ou alternativos. Também trocaram serviços privados por públicos, como escolas e planos de saúde, e reduziram o uso de transporte. Quase metade dos entrevistados (49,5%) afirma ter dificuldades financeiras. Apenas 35,3% dizem conseguir pagar todas as contas sem restrições. No total, 60% consideram que a situação econômica familiar piorou no último ano, enquanto apenas 17,3% acreditam que ela melhorou. Segundo dados da consultoria Moiguer, metade dos argentinos (50%) tem dificuldade para encerrar o mês com o que ganham. Apenas 23% conseguem economizar algum dinheiro. O peso argentino está artificialmente valorizado. Nos últimos 20 meses, a inflação aumentou muito mais do que a desvalorização da moeda. Com isso, o custo de vida na Argentina é um dos mais altos do mundo, e o país perde competitividade perante produtos importados. Todas as semanas, uma nova fábrica fecha no país. O número de empregos destruídos é maior do que o de criados. A venda de ativos também supera os investimentos privados. Desemprego e precarização O desemprego chegou a 7,9% no primeiro trimestre. O número é apenas 0,2 ponto percentual superior ao mesmo período do ano passado, mas representa um aumento de 1,5 ponto em relação ao trimestre anterior. Essa taxa, no entanto, não reflete a realidade, já que o número de trabalhadores autônomos e precários aumentou. Quem perde o emprego e passa a prestar serviços por conta própria em plataformas digitais não aparece como desempregado nas estatísticas. Além disso, 16% dos empregados procuram um segundo trabalho para complementar a renda e conseguir chegar ao fim do mês. Plano econômico depende das urnas O governo Milei depende de um excelente desempenho nas eleições legislativas para sinalizar governabilidade aos mercados e avançar com reformas. Sem isso, seu plano econômico corre sérios riscos, pois depende de investimentos privados, que ainda não chegaram. Todos os institutos de opinião pública preveem a vitória de Milei, com estimativas em torno de 40% dos votos. Será a partir dessas eleições que começará uma nova fase do governo Milei, na segunda metade de seu mandato de quatro anos. Riscos eleitorais O principal risco para Milei é que sua principal bandeira, o combate à inflação, sofra um revés. Em 2024, a ...
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  • Portugal: falhas operacionais dificultam controle de um dos piores incêndios em 15 anos
    Aug 12 2025

    Portugal enfrenta uma das piores temporadas de incêndios florestais dos últimos 15 anos, com dezenas de milhares de hectares destruídos pelas chamas. Os mais de 3.000 bombeiros mobilizados não conseguem conter a devastação. Os três aviões portugueses de combate a incêndios estão fora de serviço e o governo não solicitou ainda ajuda à União Europeia

    Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Portugal

    Em uma viagem que vai de Lisboa até Vila Real, no norte do país, os sinais da tragédia são evidentes. Regiões como o Centro e o Norte estão particularmente afetadas, com vastas áreas de mato e florestas queimadas, solo cinzento e o ar carregado pelo cheiro de fumaça.

    Em Trancoso, distrito da Guarda, a situação é crítica: famílias inteiras foram evacuadas, muitos perderam seus animais e tiveram que abandonar suas casas. Centros comunitários e igrejas acolhem os mais vulneráveis, enquanto voluntários trabalham para abrir estradas bloqueadas e distribuir suprimentos básicos.

    Combate ao fogo: recursos insuficientes e dificuldades técnicas

    Atualmente, mais de 3.000 bombeiros portugueses lutam contra o fogo, apoiados por cerca de 225 viaturas e sete aeronaves. O combate, porém, é dificultado pelo bloqueio de estradas e pelo vento forte que acelera a propagação das chamas.

    Um fator agravante é a paralisação dos três aviões Canadair portugueses, que estão fora de serviço devido a problemas técnicos. Portugal recorreu a um acordo com Marrocos, que enviou dois aviões Canadair para apoiar o combate aéreo, operação que seguirá até que os aviões nacionais estejam reparados.

    Apesar do agravamento da crise, as autoridades portuguesas ainda não solicitaram oficialmente ajuda da União Europeia, o que tem gerado críticas públicas e debate político.

    Dados alarmantes e causas dos incêndios

    Desde o início de 2025, cerca de 60 mil hectares foram destruídos pelo fogo — uma área que equivale a cinco vezes o tamanho da cidade de Lisboa. Só nos últimos dias, os focos de fogo consumiram mais de 15 mil hectares, conforme confirmado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

    Foram registrados mais de 5.700 incêndios neste ano, com metade da área queimada composta por mato, 40% por florestas e 10% por áreas agrícolas. Um problema grave é a origem criminosa dos focos de fogo: em 2023, 84% da área queimada resultou de fogo posto, e já em 2025, 26 pessoas foram detidas sob suspeita de incendiar florestas — entre elas, um bombeiro.

    Investimentos em prevenção e os desafios climáticos

    Em 2024, o governo português investiu cerca de 354 milhões de euros em medidas preventivas, incluindo limpeza de matas e campanhas de conscientização. Mesmo assim, os incêndios continuam a avançar.

    Especialistas apontam que a combinação de verões mais longos, secos e ventosos, somada ao abandono das áreas rurais e ao acúmulo de combustível natural, cria um cenário propício para focos de fogo de grande proporção. Além disso, o aquecimento global tem intensificado esses fenômenos, tornando os incêndios mais frequentes, duradouros e difíceis de controlar. A fiscalização das medidas preventivas também é dificultada em zonas remotas.

    Organizações ambientais como Quercus e Associação Natureza Portugal alertam para a necessidade urgente de políticas estruturais mais rigorosas e maior participação comunitária na gestão florestal.

    Recomendações para populações próximas

    As autoridades reforçam o alerta para que a população evite qualquer atividade que possa gerar faíscas, especialmente em dias de risco máximo. É essencial manter vigilância e comunicar imediatamente às autoridades ao notar qualquer sinal de fogo, pelos números 112 ou 117.

    Embora a maioria dos incêndios ocorra longe das áreas urbanas, seus efeitos são sentidos por toda a população, impactando a biodiversidade, a economia local e a segurança de vidas humanas.

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  • Alemães criticam Merz por não proteger exportações em meio à ofensiva tarifária de Trump
    Aug 11 2025
    A Alemanha deve ser a economia da União Europeia mais impactada pelo aumento tarifário de 15% em vigor desde 7 de agosto nas exportações para os Estados Unidos. Os setores mais afetados serão as indústrias automotiva, farmacêutica e de máquinas industriais. Às vésperas de completar 100 dias no governo, na próxima quinta-feira, o chanceler alemão, Friedrich Merz, enfrenta uma forte queda de popularidade por não estar defendendo com sucesso os interesses dos alemães, segundo pesquisas de opinião. Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim Além de ser o terceiro maior exportador mundial, atrás da China e dos Estados Unidos, a Alemanha é, de longe, o país europeu que mais exporta para os Estados Unidos. Essa redução do PIB de cerca de 0,2% que os economistas preveem por causa do tarifaço pode prejudicar bastante a economia alemã, que vivenciou dois anos consecutivos de recessão — o PIB contraiu 0,3% em 2023 e 0,2% em 2024. Além disso, embora os alemães tenham iniciado o primeiro trimestre com um crescimento de 0,4% do PIB, este contraiu 0,1% no segundo trimestre, levando os especialistas a prever um terceiro ano de recessão. Efeitos já são sentidos Segundo uma pesquisa da Câmara Alemã de Indústria e Comércio, três em cada quatro empresas alemãs já estão experimentando os efeitos do conflito comercial com os Estados Unidos. No caso daquelas companhias com vínculos estreitos com os Estados Unidos, o impacto alcança 90%, de acordo com a sondagem. Para 80% das empresas que se dizem impactadas, o principal fator é a incerteza que a situação provoca, especialmente o medo de que Washington possa impor novas tarifas no futuro. Além disso, 72% das companhias acreditam que a tarifa básica de 15% imposta pelos EUA representa um ônus significativo para suas operações. Enquanto isso, 58% das empresas alemãs preveem que esse acordo tarifário terá efeitos adversos, enquanto apenas 5% acreditam que ele poderá trazer algum benefício. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente americano, Donald Trump, chegaram a um acordo comercial que prevê a imposição de uma tarifa de 15% sobre produtos da UE, mas mantém, por enquanto, a taxa de 50% sobre aço e alumínio. Indústrias automotiva e farmacêutica Tudo indica que os danos tarifários de Trump à Alemanha se concentrarão principalmente em dois setores: as indústrias automotiva e farmacêutica. A indústria automotiva exporta e produz muito nos EUA, por isso é mais afetada do que outras indústrias. O setor representa quase 5% do PIB alemão e gera cerca de 780 mil empregos diretos. De acordo com cálculos da Associação Alemã da Indústria Automotiva (VDA), a tarifa de 15% custará bilhões de euros por ano às empresas do ramo. E as montadoras já vêm enfrentando dificuldades, provocadas, entre outras coisas, pelo desaquecimento da demanta no mercado chinês. Só no ano passado, a indústria automotiva alemã perdeu cerca de 19 mil postos de trabalho e mais demissões já foram anunciadas. No que se refere ao setor farmacêutico, a Associação Alemã de Empresas Farmacêuticas de Pesquisa (VFA) descreveu o acordo entre Trump e Von der Leyen como "um retrocesso significativo para a saúde global e para a Europa como centro de inovação". Por 30 anos, os produtos farmacêuticos desfrutaram de isenção de tarifas, uma situação que, se for encerrada, prejudicará um setor econômico estimado em quase 1% do PIB da Alemanha e do qual dependem cerca de 133 mil empregos diretos. Um estudo recente da consultoria Deloitte afirma que as exportações de máquinas para os EUA também estarão entre as mais afetadas, juntamente com as do ramo farmacêutico. Para os exportadores de máquinas, a Deloitte estimou perdas de 7,2 bilhões de euros a médio prazo e avaliou os prejuízos para o setor farmacêutico em 5,1 bilhões de euros. Incerteza econômica frustra alemães O clima de incerteza vem impactando bastante o eleitorado alemão. Em uma pesquisa publicada há poucos dias, apenas 35% dos entrevistados acreditam que o chanceler alemão Friedrich Merz está promovendo com sucesso os interesses alemães internacionalmente e dentro da UE. Especialmente porque as preocupações com a economia alemã permanecem altas. Conforme a sondagem, 65% se dizem o preocupados com a possibilidade de o tarifaço americano prejudicar a economia alemã. As coisas não estão indo bem para Friedrich Merz, que ao completar agora 100 dias no governo enfrenta uma forte queda de popularidade. Segundo as últimas pesquisas só 30% estão satisfeitos com o trabalho do governo alemão – dez pontos a menos que no mês anterior. Atualmente, cerca de 70% estão insatisfeitos.
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  • Plano de Israel de ocupação total de Gaza inclui o deslocamento de 900 mil palestinos
    Aug 8 2025
    O gabinete de segurança israelense autorizou na quinta-feira (7) o plano do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para ocupar integralmente a Faixa de Gaza. Na prática, porém, ainda não está claro o que isso significa e como esse projeto será viabilizado. Apesar de grande oposição internacional e também interna em Israel, o premiê israelense opta por uma estratégia ainda mais dramática quase dois anos após o início da guerra. Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel A informação obtida pela RFI é que o plano deve ser executado em etapas, ou seja, não levará a uma ocupação imediata de toda a Faixa de Gaza. Essa abordagem gradual se deve aos alertas recorrentes do chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, Eyal Zamir, que tem repetidamente alertado a cúpula política sobre os riscos práticos que este plano representa. Segundo o Canal 12 de Israel, o detalhamento das fases deverá ser o seguinte: o primeiro passo será a retirada dos cerca de 900 mil palestinos que vivem na Cidade de Gaza, o que representa metade da população total; depois, viria a ocupação da Cidade de Gaza; e por fim, caso o Hamas não aceite retornar à mesa de negociações, a ocupação integral da Faixa de Gaza. Israel já controla 75% do território palestino. "As vidas dos reféns estarão em perigo e não há como garantir que eles não serão afetados. Nossas forças estão esgotadas, o equipamento militar precisa de manutenção e há problemas humanitários e sanitários em Gaza", alertou Zamir durante a reunião, segundo o Canal 13 de Israel. Outra informação que a RFI obteve é que existe a possibilidade de anexar de forma permanente a zona tampão que Israel mantém desde o início da guerra junto à cerca da fronteira, chamada de "perímetro". Essa questão representa também um dos impasses nas negociações com o movimento radical palestino, que, neste momento, estão paralisadas. Israel queria manter, durante o cessar-fogo com o Hamas, o controle de dois quilômetros em todo o contorno da Faixa de Gaza, de forma a impedir a aproximação de palestinos da cerca que divide os territórios. O Hamas aceitava conceder 800 metros. Israel então recuou e apresentou mapas estabelecendo o controle de entre 1,2 km e 1,4 km. Mas a situação não foi resolvida e o processo está estagnado. Oposição interna em Israel Para entender o apoio ou a oposição ao plano, é preciso contextualizar a situação interna em Israel a partir de três ângulos distintos. Primeiro, os representantes mais extremistas da coalizão de governo, como Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, e Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional, não escondem o sonho de reocupar a Faixa de Gaza e reconstruir os assentamentos. O ano de 2025 marca os 20 anos desde que Israel se retirou completamente do enclave palestino e desmantelou todos os assentamentos. Por outro lado, há o chefe do Estado-Maior do Exército, Eyal Zamir, os familiares dos reféns israelenses e o líder da oposição a Netanyahu, Yair Lapid. Todos consideram que o plano de ocupação defendido por Netanyahu colocará em risco os reféns que ainda estão vivos, provocará ainda mais desgaste das tropas e também as colocará em risco. Segundo Yair Lapid, o projeto de ocupação integral da Faixa de Gaza vai levar os israelenses "a arcar com um custo alto que eles não podem e não querem pagar". O terceiro aspecto diz respeito à pesquisa mais recente sobre a posição da sociedade em relação à guerra, realizada no mês de julho. O levantamento mostra que 74% dos israelenses querem o fim do conflito e um acordo que seja capaz de libertar todos os reféns de uma só vez. Um ponto que chama a atenção na pesquisa é que 60% dos eleitores que votaram em partidos que compõem o governo de Netanyahu compartilham essa posição. Pressão internacional Segundo o canal público israelense, para obter alguma legitimidade internacional, o governo deve flexibilizar o bloqueio ao território palestino. A tendência é que a Faixa de Gaza receba uma quantidade de ajuda humanitária quatro vezes superior à autorizada a entrar no enclave atualmente. Mas é difícil imaginar o fim das críticas internacionais. Miroslav Jenca, subsecretário-geral da ONU, afirmou no Conselho de Segurança que a ocupação total de Gaza pelas forças de Israel poderá ter "consequências catastróficas". Para além da ONU e dos organismos internacionais, até os Estados Unidos, o principal aliado do país, parecem interessados em impedir a ampliação das operações do Exército israelense. Segundo o portal Axios, um oficial norte-americano teria dito que o governo de Donald Trump não seria favorável à anexação de partes da Faixa de Gaza por Israel.
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  • Novo tarifaço de Trump torna indústrias europeias menos competitivas e pode elevar o desemprego
    Aug 7 2025
    O novo regime tarifário de 15% imposto pelo presidente americano, Donald Trump, sobre a maioria dos produtos europeus entrou em vigor nesta quinta-feira (7). As indústrias do bloco mais atingidas pelas tarifas serão menos competitivas nos Estados Unidos (EUA) e reclamam que terão que dar muito em troca de pouco retorno. O novo acordo comercial está provocando diferentes interpretações dos dois lados do Atlântico, e isso poderá levar a uma escalada tarifária. Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas O preço a pagar por uma suposta estabilidade transatlântica terá um impacto direto nas indústrias da União Europeia (UE). As empresas do bloco estão preocupadas e continuam fazendo os cálculos dos efeitos negativos que as tarifas de 15% impostas pelo presidente americano, Donald Trump, poderão provocar. O aço e o alumínio enfrentam uma alíquota separada de 50%. As consequências do tarifaço não serão imediatas, porém sentidas a médio prazo. As indústrias vão sofrer prejuízos com a queda da exportação de seus produtos e, claro, terão lucros reduzidos. Um dos primeiros impactos negativos deverá ser um aumento do desemprego, já que os produtos da UE vendidos nos EUA se tornarão mais caros e menos competitivos. Isso poderá resultar em uma queda nas vendas e, consequentemente, no corte de milhares de empregos no bloco. Na França, a gigante de cosméticos L’Oréal, que gera quase 40% do seu volume de negócios nos EUA, e a multinacional farmacêutica Sanofi têm sinalizado a intenção de transferir parte de suas produções para solo americano a fim de evitar as tarifas elevadas. Este movimento poderá gerar um duplo efeito sobre o emprego, explica o economista belga Bruno Colmant. “Se indústrias da União Europeia mudarem parte de suas produções para os Estados Unidos, os trabalhadores americanos substituirão os trabalhadores europeus, e isto contribuirá para a desindustrialização da Europa”, ressalta. Conta de energia mais alta O aspecto energético do pacto entre os Estados Unidos e União Europeia é bastante sério. O acordo prevê que os europeus comprem US$ 750 bilhões em produtos energéticos americanos – gás, petróleo e energia nuclear – nos próximos três anos. Bruxelas tenta dar uma impressão otimista ao enfatizar que assim haverá menos dependência energética da Rússia ou dos países árabes. No entanto, especialistas advertem que os europeus vão pagar mais caro pela energia se os EUA decidirem aumentar os preços no futuro. Além disso, as compras maciças de gás e petróleo americano poderão comprometer as metas climáticas da UE. Em resumo, o dinheiro dos consumidores europeus que poderia ser investido na transição energética será sacrificado em favor da aquisição de combustíveis fósseis americanos, fontes altamente poluidoras. Leia tambémNa Europa, nos EUA ou no Brasil, falta mão de obra para a transição energética Na quarta-feira (6), Trump ameaçou aplicar tarifas de 35% se a União Europeia não cumprir a promessa de investimento no valor de US$ 600 bilhões em empresas americanas. No entanto, a Comissão Europeia não tem capacidade para realizar investimentos em nome do setor privado. Pouco antes da meia-noite, Trump afirmou nas redes sociais que bilhões de dólares começariam a entrar nos EUA como resultado das tarifas. Prorrogação e desafios Enquanto Bruxelas acaba de anunciar a suspensão das retaliações comerciais contra as tarifas dos EUA por seis meses, governos europeus enfrentam desafios e discutem como limitar o prejuízo da guerra tarifária. Analistas acreditam que o raciocínio em Bruxelas é evitar que Trump se retire da aliança militar transatlântica, a Otan, e ponha um fim ao apoio à Ucrânia. A Alemanha, maior economia da Europa, é um dos países do bloco mais atingidos pelas novas tarifas de 15%. O governo alemão está sendo forçado a repensar seu modelo econômico baseado na exportação. Para se ter uma ideia do tamanho do estrago, só no setor automotivo, estima-se que cerca de 300 mil empregos poderão ser afetados com o tarifaço. Esta semana, Trump falou em impor tarifas de até 250% sobre as exportações farmacêuticas da Europa, poucos dias após garantir que estas mesmas taxas seriam de 15%. Se a nova promessa do presidente americano for levada ao pé da letra, a Irlanda estará em apuros. Além de sediar a maioria dos grandes nomes do comércio farmacêutico global, o maior volume das exportações irlandesas para os EUA é de produtos farmacêuticos.
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    7 m
  • Governo e empresários temem paralisia no diálogo com os EUA após prisão de Bolsonaro
    Aug 5 2025
    A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, decretada pelo ministro du Supremo Alexandre de Moraes, criou apreensão entre empresários e representantes do governo brasileiro. A avaliação é de que a medida poderia atrasar ou até inviabilizar a retomada do diálogo com o presidente americano, Donald Trump, segundo fontes ouvidas pela RFI. Vivian Oswald, correspondente da RFI O governo brasileiro articulava uma conversa telefônica entre Lula e Trump para os próximos dias sobre o tarifaço e esperava que as tratativas avançassem. Mas a prisão domiciliar de Bolsonaro, decidida na segunda-feira (4), poderá afetar a retomada do diálogo. Cabe ao republicano liberar os canais diplomáticos para que os dois países retomem as negociações, interrompidas dias antes de Trump condicionar a suspensão da tarifa de 50% à interferência do poder Executivo no processo judicial contra Bolsonaro. Agora, fontes do governo ouvidas pela RFI alertam para o risco de agravamento da crise e reforçam que é hora de atenção. No setor produtivo, o clima é de apreensão. Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, ainda não há luz no fim do túnel. "Este é o momento de hibernação, porque qualquer faísca é capaz de explodir o cenário como um todo. Todos estão com os nervos à flor da pele", afirmou. Castro explica que as empresas que ficaram fora da lista de isenções do aumento tarifário enfrentam dificuldades para encontrar novos mercados ou preços competitivos como os que tinham nos Estados Unidos. Novo discurso em defesa da soberania O presidente Lula discursa nesta terça-feira (5) em defesa da soberania e da união nacional durante a nova edição do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado “Conselhão”. O encontro reúne 155 participantes, entre ministros e representantes de diversos segmentos da sociedade, que aconselham o governo na formulação de políticas públicas. A reunião acontece na véspera da entrada em vigor da tarifa de 50% sobre parte das exportações brasileiras. O vice-presidente Geraldo Alckmin, responsável pelas negociações com os EUA e pela interlocução com o setor produtivo nacional, deve reforçar essa mesma linha em seu discurso durante o evento. Consulta à OMC Na segunda-feira (4), Alckmin presidiu a reunião do Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior, que aprovou uma consulta à Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre o caso das tarifas. A decisão final sobre como e quando acionar a OMC caberá ao presidente Lula. O governo ainda calcula os impactos do tarifaço anunciado por Trump. Segundo cálculos oficiais, 12,5% das exportações brasileiras têm como destino os Estados Unidos, e o tarifaço deve atingir 35% desse total. A lista com 694 isenções anunciada na semana passada trouxe algum alívio, mas a decisão do ministro Alexandre de Moraes de decretar a prisão de Bolsonaro reacendeu tensões e gerou novo clima de incerteza. Empresários aguardam plano de apoio do governo Por ora, os empresários não querem ouvir falar em retaliação, temendo agravar ainda mais o cenário. O que esperam do governo é um plano de contingência, atualmente em fase final de elaboração, para apoiar os setores mais afetados. Entre as medidas em estudo estão linhas de crédito com recursos do BNDES, ações para a manutenção de empregos e mudanças regulatórias para estimular o consumo interno de produtos antes exportados. O governo federal já decidiu priorizar a compra de produtos da indústria nacional para abastecer o Sistema Único de Saúde (SUS), e avalia fazer o mesmo com alimentos. Empresários que se reuniram com Alckmin pediram a ampliação da Lei Acredita Exportação para grandes empresas. O texto, em vigor desde segunda-feira, prevê o ressarcimento de 3% do valor exportado para micro e pequenas empresas, por meio de créditos tributários. Como isso tem impacto fiscal, o governo ainda avalia o custo de estender o benefício às empresas de maior porte. Abrir novos mercados Alckmin também afirmou que o Executivo está concentrando esforços para abrir novos mercados para os produtos brasileiros. Estão em fase final as negociações políticas para que o Reino Unido e a União Europeia voltem a comprar pescado do Brasil, produto que era amplamente exportado para os Estados Unidos e foi sobretaxado em 50%. O vice-presidente brasileiro voltou a criticar o percentual imposto por Washington. Ele destacou que oito em cada dez produtos exportados pelos EUA ao Brasil têm imposto zero, enquanto a tarifa média brasileira sobre produtos americanos é de apenas 2,7%. As novas tarifas americanas entram em vigor às 00h01 desta quarta-feira (6).
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