Uma sinfonia de chumbo nos 100 anos do Pacheco. Em conversa com João Pedro George Podcast Por  arte de portada

Uma sinfonia de chumbo nos 100 anos do Pacheco. Em conversa com João Pedro George

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Acerca de esta escucha

Para se ser um homem deste tempo ou até de outros, e variar, cumular, não basta estar vivo, como estamos todos, mais ou menos, tantos sem grande proveito, para si mesmos ou para a época, não basta isso, é preciso ter ouvido, escutar a música que faz cada um, os que sabem arrancar notas ao seu instrumento, seja este qual for, e ouvir como tudo isso depois se eleva, que sinfonia ou caos se faz, se não se consegue uma harmonia de jeito e anda tudo aos encontrões a produzir ruído, e muitas vezes, desencorajados, se cai no silêncio, se fica sufocado debaixo do que cospe a telefonia, mas ser de algum tempo é ser capaz de escutar e, ainda melhor que seguir, acompanhar, é achar a sua diferença, esse a mais capaz de impor uma inflexão, até valores próprios, chegar a conduzir num movimento o outro, disputar a batuta, ou desmoralizar o maestro, criar a sua escola, mesmo que pela calada, clandestino, sem horários, sem burocracia, só de impulso, paixão, regatear com a época, dar-lhe o golpe, isso, sim, é tomar posição, extrair um sentido da geral e compor mais que uma rima, uma solução, ou devotar-se à querela, aos embates, não conter na raiva, não se deixar enredar, mas explicar a liberdade por extenso, nos gestos, em actos, inentar o seu carácter, produzi-lo na relação com os demais, como um resposta, tendo em atenção aquilo que falta, tudo quanto nos sonegam, anulam, E aqui faça-se notar que a maior violência de todas pode ser o silêncio, apagar os outros, fingir que não se viu, distribuir a morte antes de tempo, vir aí fazer a sua justiça que passa apenas por cultivar relações, chegar aos lugares, e decretar o vazio, ainda lhe pôr em cima uma gente decorativa para irritar ainda mais, substitui-se com isto a vida por um desenho animado desses que passam só nos lares tentando empurrar de vez os velhos, neste país que se quer um imenso lar de quem nunca viveu e que, por isso, muitas vezes mesmo que quisessem ir-se, acabar com isto, não sabem para que lado fica a morte. A combate está dificultado, hoje, mesmo por aqueles que lêem. O asfastamento paga-se, a falta de um convívio sincero, truculento, animador já por si deixa as almas criarem musgo, em vez de lhes arrancar as teias de aranha, a mesquinhez das intrigas alimentadas em estado de paranóia, reforça-se a tibieza do carácter, a infantilidade nas convições. Ora, se a histórica de Cultura nos ensina alguma coisa "é a resolução das antinomias numa luta sem tréguas, é o combate implacável entre credos opostos", vinca Luiz Pacheco. Estão mal as coisas para quem veio para a literatura em busca de sinais dessa refrega. Estão pessimamente aqueles que, como ele, que escolheram a literatura como um modo mais empenhado de superar o estilo gago da existência, e pôr algum sentido na trama dos dias. "Porque a minha, o meu trabalho (chamem-lhe ou não assim, pouco me importa) é escrever. Ler, para escrever. Ver, para escrever. E o que não sair em letras, está-me escrito na pele. Vida dura? acho que se percebe, tenho a pele curtida e colada aos ossos, mordida, alegrias, dores, frios e miséria." Estamos sobre o centenário dde quem mais intensa e empenhadamente zurziu no enredo que veio falsificar esta relação entre a vida e a literatura, todos esses modos de aliciamento e convite ao imobilismo, as estratégias de inibição e que trocam uma condição dinâmica e aberta a "um espontâneo movimento de polémica, de antagonismos inconciliáveis em riste", por um quadro de acomodação amorfa. Vimos assinalar o centenário daquele que reconheceu como muitas vezes foi um tipo bera, um sacana, tendo sido capaz do pior, fez o que fez por se querer um tipo livre, "livre até à abjecção, que é o resultado de querer ser livre em português". Assim, em vez de cerimónias o que temos é um grande bolo onde afundar a tromba de uns quantos, e quisemos tomar o pulso a um meio literário cujas imposturas ele não se cansou de expor e atacar. De resto, prova da sua condição moribunda deste meio, são os silêncios falaciosos que permitiram que no ano passado viesse a lume uma obra inteiramente inédita e ninguém lhe pegou, mesmo se os seus livros continuam a ser traficados a alto preço nos alfarrabistas, e se lhe vai sendo rendido um culto que não anda longe daquela forma da exploração sistemática póstuma do maldito, como pôde antecipar, falando no "aproveitamento do seu caso humano (deturpando-o) ou da obra por ele legada (amputando-a mesmo assim; colhendo nela apenas o que convém aos tempos que correm) manipulada por seres mesquinhos e gulosos que a serem contemporâneos do maldito, seriam (eram, está-se mesmo a ver, a perceber) os seus mais ferozes inimigos". Para discutir o seu exemplo e os textos que nos legou, chamámos o tipo (João Pedro George) que mais atenção lhe deu, que mais contribuiu para que à volta da sua obra se pudesse gerar um debate sério, não forçando a hagiografia, mas ...
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