O diário de Shantall - a menina que fala pelos cotovelos

De: O diário de uma menina que fala sozinha.
  • Resumen

  • Onironauta procrastinadora, poeta de merda, artista plástica inútil, mãe de gato que se recusa a passar roupa e ama tomar sopa! Apenas uma pessoa falando sozinha.

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    Shantall
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Episodios
  • Shantall - A menina que fala pelos cotovelos há 20 anos - Arquivo 2006 - A doce aventura de morar sozinho
    Apr 28 2025



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    15 m
  • O Urso
    Apr 28 2025

    O primeiro entardecer tristonho que tive se deu por causa de um urso laranja, de pelúcia vagabunda, com uma gravata xadrez horrível, recheado mal e porcamente com bolinhas de isopor que faziam um barulho irritante.

    Eu estava sentada em frente à minha casa, com um vestido amarelo terrível, que ia até o meio das canelas, com um par de sandálias Ortopé que já estavam pequenas e faziam com que meus dedos quase tocassem o chão, usando um relóginho de plástico ordinário, e junto do tal urso. O maldito urso laranja de pelúcia vagabunda com uma gravata xadrez horrível.

    Todo fim de tarde, quando eu escutava o barulho da matraca do vendedor de biju se aproximando, eu me sentava no degrauzinho lá da árinha da frente da minha casa.

    Sem pedir e nem nada, uma menina que estava passando se sentou ao meu lado.Aquilo da gente nem se conhecer e ela ter apenas se sentado, seria um transtorno hoje em dia.Mas a infância tinha daquelas facilidades. “Quer ser minha amiga?”E já era!Qualquer coisa pra ser, já era.

    A menina, que tinha cara de porquinho-da-índia, por causa dos incisivos finos e compridos, elogiou meu urso… Aquele urso laranja de pelúcia vagabunda com uma gravata xadrez horrível, e me pediu para pegá-lo. E eu, boazinha como sempre fui, e trouxa como nunca deixei de ser, deixei, claro!

    Conversamos durante algum tempo, talvez nem tenha passado de cinco minutos, mas lembrando agora, parece ter sido muito, muito tempo. Até que ela apontou para onde morava. Do outro lado da rua, na quadra ao lado, numa casa de grandes janelas de madeira e cheia de ornamentos. Ela me pediu para levar o urso para a casa dela, e eu? Deixei… Claro!

    Ela disse que no dia seguinte, às seis horas da tarde, me traria o urso de volta. Eu disse para ela que não sabia ver horas no meu relóginho de plástico ordinário, e ela me mostrou onde os ponteirinhos estariam, quando fosse seis horas.

    Aos cinco anos de idade, cinco meses, três dias e dezoito horas, fui passada para trás pela primeira vez.

    Quando os ponteiros chegaram ao devido lugar, a menina não apareceu. Nem ela, nem meu urso laranja de pelúcia vagabunda com aquela gravata xadrez horrível.E naquele instante eu percebi que… apesar da pelúcia ser vagabunda, dele ser laranja, ter uma gravata xadrez horrível e fazer aquele barulho de bolinhas de isopor irritante, sim, eu gostava dele… pelo simples fato dele ser MEU.E pela primeira vez na vida, eu atravessei uma rua. A minha rua. A rua que eu não podia atravessar, e como Adèle H. atravessando o oceano, atravessei aquela rua atrás do meu urso. Aquele…

    Atravessei a rua, andei meia quadra, cheguei à esquina e atravessei outra rua. Fui até a casa da menina que tinha cara de porquinho-da-índia, sem nem me lembrar do nome dela, para buscar o meu lindo urso laranja de pelúcia.

    A mãe dela me atendeu, me deu o urso, me deu cajuzinho de soja, leite e soja, pãozinho de soja, e esse gosto peculiar que tenho por tudo que é de soja. Até pelas vacas imaginárias de soja. A menina me acompanhou até em casa e somos amigas até hoje.

    Como dizíamos em Macondo… “Anos depois, em frente ao pelotão de fuzilamento” após a morte da minha avó, no dia em que fizemos a desocupação da casa dela pra que as imobiliárias iniciassem as visitas, achei meu urso. Sozinho no escuro há tanto tempo, todo carcomido, sujo, imundo, com teias de aranha e esquecido no sótão da casa da minha avó. Tão esquecido e carcomido quanto todas as minhas lembranças de infância.

    Acho que minha infância, pesar de ter sido rica em acontecimentos, tantos, quantos, imensos e tão densos, era como o meu urso de pelúcia. Laranja, vagabunda, horrível e recheada de bolinhas de isopor que faziam um barulho irritante.

    Hoje minha casa não tem um degrauzinho na frente, e nem uma “árinha” aberta com um portãozinho baixo e nunca mais escutei o som da matraca do vendedor de biju.

    Sobre o urso, bom, ele tá bem. Ainda não voltou a falar comigo, por ter ficado abandonado, no escuro e esquecido,Mas… estamos trabalhando nisso.



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  • Shantall - A menina que fala pelos cotovelos - 05 - Sem sentido
    Apr 22 2025



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