'Alumbre na Macaia': em Arles, Ian Cheibub convida para viagem imersiva pela magia afro-brasileira Podcast Por  arte de portada

'Alumbre na Macaia': em Arles, Ian Cheibub convida para viagem imersiva pela magia afro-brasileira

'Alumbre na Macaia': em Arles, Ian Cheibub convida para viagem imersiva pela magia afro-brasileira

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Em Arles, no sul da França, o casarão da Fundação Manuel Rivera Ortiz adotou como tema a magia em todos os seus sentidos. Bruxas e espíritos fazem parte de “Sortilégios”, em cartaz até 5 de outubro, como parte dos Encontros de Arles, um das maiores mostras internacionais de fotografia. No porão, o fotógrafo Ian Cheibub apresenta “Alumbre na Macaia”, com curadoria de Glaucia Nogueira, da associação Iandé. Patrícia Moribe, enviada especial a Arles Há um ano, Ian Cheibub, fotojornalista colaborador de grandes publicações internacionais, veio a Arles mostrar seu portifólio com um projeto pessoal, calcado na vivência no terreiro de umbanda da avó, em Niterói (RJ). Em julho de 2025, depois de um mês de residência artística na fundação, o artista abriu a instalação imersiva, com imagens impressas em painéis de rendões, tambores e encruzilhada. Cheibub explica que o nome da exposição traz um duplo sentido. “Alumbrar dá a ideia de você ficar encantado com alguma coisa, mas ao mesmo tempo de você iluminar. E macaia também tem dois sentidos. Um espiritual, que é o lugar das ervas sagradas, mas também é qualquer mata e é onde o caboclo mora. Minha avó [mãe de santo] ia pegar a erva na macaia ao lado da casa dela.” Ian Cheibub se diz interessado na ideia da “não divisão, de a gente estar dentro de uma coisa a ponto de não se saber mais que o que é o quê”. Ele explica também que o projeto vem de um descontentamento com a representação exótica dos ritos afro-brasileiros. O conceito central da pesquisa de Ian é a "materialidade mágica", onde a magia e o material se misturam, tornando-se indistinguíveis. Ele vê essa fusão como um instrumento contra-colonialista, uma forma de defesa e subversão". Banhos de santo Depois de se estabelecer muito cedo no fotojornalismo, Ian começou a refletir a respeito de uma linguagem artística sobre suas raízes. Ele lembrou de banhos de santo que a avó preparava quando ele era criança. Ele passou, então, a fotografar os rituais com película e depois mergulhar os rolos em banhos de santo, tendo como resultado imagens oníricas, com cores saturadas, que se expandem. Nelas, as pessoas em transe se vestem de luzes mágicas, em movimentos fantasmagóricos. Ian Cheibub nos leva a uma visita guiada, que começa já nas escadas que descem ao subsolo da fundação, decoradas com folhas da Guiné nas quais ele imprimiu retratos de pessoas incorporadas usando a técnica da fitotipia. “Você coloca um negativo em cima da folha e bota no sol”, explica. “Ela se chama Guiné por causa das utilizações pelos escravizados que vieram da costa da Guiné, mas na verdade é uma planta 100% brasileira.” No subsolo, um corredor é decorado com cortinas de rendões, com imagens impressas dos rituais. Ele lembra que os rendões foram trazidos pelas mulheres portuguesas para o Brasil, mas quando o tecido chega no terreiro, seu uso é subvertido. Atravessando o corredor de rendões, o visitante passa por tambores que emitem vibrações em laser contra a parede, com acordes suspensos que se misturam às colagens sonoras dos rituais. Encruzilhada No último espaço, o artista criou uma encruzilhada com imagens transferidas a painéis de um tecido muito fino, que vibra com o ar. “A gente pode fazer as coisas se mexerem sem necessariamente tocá-las. Os deuses estão sempre dançando e, dessa forma, as imagens também dançam à medida em que a gente anda pela sala”, explica. No fundo da sala, por um buraco, podemos ver a imagem da avó de Ian impressa numa folha de Guiné. Por causa da umidade do local, a imagem interage com os fungos e vai se modificando. A curadora Gláucia Nogueira, da associação Iandé, de apoio à fotografia brasileira na Europa, ressalta que o trabalho de Ian Cheibub "toca, não só pela força visual, mas pelo sentido de pertencimento e pela história familiar de terreiro que ele traz". A exposição na "cave" da fundação, com sua textura e "fantasmas", foi escolhida para materializar o invisível e oferecer uma imersão na "diáspora africana" do Brasil, explica. A Iandé organizou ainda um encontro entre Ian Cheibub e a artista visual e curadora Denise Camargo. “’Alumbre na Macaia’ é um trabalho super necessário, especialmente se a gente considerar toda a questão do racismo estrutural, da intolerância religiosa, o preconceito contra as religiões de origem afro-brasileira”, diz Camargo. “Esse trabalho expressa justamente a possibilidade de romper com essas visões errôneas sobre as matrizes ancestrais de origem afro-brasileira, com valor inestimável para a conquista desses espaços de tolerância”, acrescenta. "Alumbre na Macaia" pode ser visitada em Arles até 5 de outubro de 2025.
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